Em um incerto fim de tarde, estava eu tranquilo quando toca o telefone.
Elétrico, como sempre que tomado de euforia, Beto falava: – “Vem cá no muro”.
Vizinho, compadre e amigo a gente não questiona, obedece.
E vinha ele com mais uma criação culinária construída sobre o tripé do sucesso: disponibilidade x necessidade x fome.
Aprendi com ele a transformar um pão italiano num requisitado prato divertido e saboroso.
Quando ele o fez pela primeira vez, a linguiça sobressaltava de tal modo que nos era impossível lembrar se havia outra coisa naquela receita.
Mas o tempo foi seguindo, a receita se repetindo, e novos elementos surgindo foram construindo variações que hoje alcançam um novo padrão de excelência.
E seja ela como for, sempre fazendo jus ao meu amigo criador.
Um pão de tamanho que baste serve de recipiente para o recheio.
Esse pode ser do que houver ou lhe aprouver.
Nesse caso, uma linguiça blumenau ou colonial de porco, desfiada e um maço de escarola se combinam.
Douro um pouco de cebola e alho no bacon e acrescento a linguiça.
Refogo rapidamente, acrescento uma dose de aguardente e flambo.
Assim que o fogo acaba, incorporo a escarola cortada em tiras e garanto que toda ela refogue, sem passar do ponto.
O interior do pão italiano, já sem a coroa e o miolo, forro com fatias de mussarela.
Usando um pegador de macarrão ou de salada, vou preenchendo o pão com o recheio de linguiça com escarola. O interessante é descartar o excesso de líquido pois isso deixaria o pão encharcado.
Quando completo, acrescento mais um pouco de mussarela e fecho o pão com sua coroa vedando com parmesão ralado.
Levo o pão ao forno pré aquecido por vinte minutos e está pronto.
Beto Belini, meu compadre vizinho, que provou e elogiou esta receita adaptada, nunca reivindicou a autoria. Nunca se arrogou ser o autor desta ou de outra criação. Esse é seu espírito gentil, caridoso, amigo e fraterno.
Ele e eu sabemos que em maior ou menor grau, todos nós já chegamos ao ponto em que nada se cria, tudo (em algum grau) se copia. E isso já dizia Chacrinha.
Essa receita, é apenas uma que aprendemos juntos a fazer e degustar em família.
Outras tantas apenas provei pensando que sempre haveria tempo de aprender.
Não há. O tempo é agora. O amanhã não existe.
Então faço agora com prazer, para saciar a fome e a saudade do bom amigo que doravante só pode provar a alegria.
Provo, com um fio de azeite e uma taça de vinho branco.